domingo, 27 de maio de 2012

Ver para Crer



Caso real dá conta de que um humilde pedreiro fora contratado para a construção de um muro, em uma das ruas mais movimentadas da sua cidade.

No dia combinado, começou a sua empreitada, derrubando o antigo murro que ali houvera sido erguido anos passados; causando algum transtorno aos que passavam pelo local. De início, poucos acreditavam que das mãos daquele ancião pudesse sair algo que surpreendesse. Seria apenas mais um muro, entre tantos outros da mesma rua.

Retirado todo o entulho, o velho empreiteiro começou a sua arte, e bastaram apenas alguns dias para que alguns parassem para olhar, notando, já naquele início, um toque de mestre.

Mais alguns dias adiante, já se fazia ouvir as palavras de estímulo:

_ “Ta ficando bom heim!” Dizia a maioria.

Entre todos, apenas uma velha senhora, que carregava um livro debaixo do braço, jamais parou. Limitando-se a olhar sem tecer qualquer comentário que fosse.

Quase ao final, os carros diminuíam a velocidade, a fim de contemplar melhor o esmero do trabalho realizado, causando acúmulo, no já intenso trânsito daquela rua. Todos repetiam as mesmas palavras:

_ “Parabéns pelo belo trabalho!”

No prazo combinado da entrega do serviço, tinha o mestre feito muitos amigos e clientes por toda parte, e só naquele último dia, a senhora com o livro debaixo do braço parou para cumprimentá-lo:

_ “Quero lhe dar os parabéns pelo belo trabalho realizado e aproveitar para lhe falar deste livro, que contém a verdade sobre tudo que o senhor precisa saber e acreditar.”

O velho mestre olhou bem fundo nos seus olhos e respondeu:

_ “Quando iniciei o meu trabalho, ou mesmo no meio do caminho, a senhora jamais me cumprimentou, e me nega agora o mesmo tempo que precisou”.

Por maior que seja uma verdade, não se colhe antes de plantar e há de se cuidar, enquanto ainda floresce.



segunda-feira, 21 de maio de 2012

Das Vantagens de Ser Prático



Certa ocasião, um homem de bom senso questionou um poeta a razão pela qual ele não fazia algo de mais prático; argumentando que a sua escrita acabaria por levá-lo a morrer de fome.



_ “O que fazia da vida, aquele seu saudoso primo?” Perguntou o poeta.

_ “Era pára-quedista”. Respondeu.

_ “E como veio a morrer?” Insistiu o poeta.

_ “Praticando”, finalizou.

O homem de bom senso retirou-se sem mais nada dizer.

domingo, 6 de maio de 2012

Magia de Sentir




Naquele corpo,
Outro dia envolvido em abraços,
Sopravam novos caminhos.

O perfume de outrora já não existia mais;
Era agora a mais pura das essências,
A magia de sentir.

Quando ela o tocou no braço,
Havia algo incompreendido,
Um êxtase que lhe fez borbulhar,
E misturar todo e qualquer sentido.

Não foi apenas um simples toque,
Era o sopro dos mais fortes sentimentos,
Como pétalas que soltam das rosas,
E perfumam ao sabor do vento.

Mesmo assim,
Precisava ir além, tentar,
Continuar caminho acima,
Perder o medo de não mais poder parar.

Ela mergulhou os dedos entre os pelos do seu braço,
Como pássaro, que se lança no inverno, em vôo baixo rio acima,
Só para provar o sabor do toque da intensa neblina.

E ele respondeu com o calor dos arrepios,
Deixou-se ser lançado naquele mesmo rio.

Já agora,
Duas mentes insanas, ardentes em corpos rosados,
Seres completamente descompensados,
Diante da mais incontrolável das turbulências;
Que sentem, vertem, convertem;
Deságuam em enchentes.

De tirar o calço e molhar as pontas dos pés,
Desfazer os nós dos laços,
Tecer a teia no horizonte desconhecido,,
Ardente, como o fogo que aquece o próprio sol.

Leu nos olhos dela, o mais forte dos desejos,
Como invasor atenuado dos sentidos,
Que vai além do insinuado,
Do que lhe teria sido permitido.

Tal pena fina rubra,
Quase sangrando a folha branca, naquele, apenas seu, suave jeito.

Ela descobriu nos caminhos do seu braço,
Que não há poços profundos, nem segredos, que um poeta não alcance com as pontas dos seus dedos.